Em um mundo cada vez mais sobrecarregado emocionalmente, o debate sobre saúde mental nunca foi tão necessário. E, entre as diversas abordagens terapêuticas que vêm ganhando espaço, o uso medicinal da cannabis tem chamado a atenção em razão dos resultados promissores no tratamento de condições como ansiedade, depressão, síndrome de burnout, epilepsia e até transtornos psicóticos.
A explicação está no sistema endocanabinoide, um conjunto complexo de receptores e substâncias químicas presentes em nosso corpo que ajuda a regular funções vitais como o humor, o apetite, o sono e a resposta ao estresse. Os canabinoides da planta da cannabis, como o canabidiol (CBD), interagem com esse sistema, promovendo equilíbrio e alívio dos sintomas em diversas condições emocionais.
No caso de quadros de ansiedade, por exemplo, que atingem milhões de brasileiros, estudos mostram que o CBD tem promovido relaxamento sem os efeitos colaterais típicos dos fármacos convencionais, como risco de dependência.
Um deles é um ensaio clínico realizado no Brasil com 57 pessoas saudáveis, que simulou uma situação de estresse (um discurso em público). Neste caso, a dose de 300 mg de CBD foi a mais eficaz na redução da ansiedade. Doses menores (150 mg) ou maiores (600 mg) não tiveram o mesmo efeito, o que reforça a importância de um acompanhamento médico para definir a dose ideal para cada paciente.
Novos caminhos para o tratamento da depressão e do burnout
Outra condição que também pode encontrar auxílio no uso de canabinoides é a depressão, que atinge cerca de 12 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Uma revisão feita por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) apontou o CBD como um agente com efeito ansiolítico, antipsicótico e antidepressivo, com aplicações promissoras para o futuro da psiquiatria.
Já nos Estados Unidos, um estudo da Universidade do Novo México acompanhou quase 6 mil sessões de uso de cannabis por 1.819 pessoas, via aplicativo Releaf App. A conclusão foi que 95,8% dos usuários relataram alívio dos sintomas de depressão após o uso da planta.
Outro uso relevante do CBD na saúde mental está no combate à síndrome de burnout, que ganhou ainda mais destaque após a pandemia da COVID-19. No Hospital Universitário da USP de Ribeirão Preto, 120 profissionais da saúde foram avaliados em um ensaio clínico: metade recebeu 300 mg de CBD por dia e a outra metade, não. Ambos os grupos participaram de práticas complementares como psicoterapia e atividade física.
O resultado? Entre os que usaram CBD, houve uma redução de 60% nos sintomas de ansiedade, 50% nos de depressão e 25% na fadiga emocional. O estudo reforça o potencial terapêutico da substância em contextos de estresse crônico e exaustão profissional.
Mas, apesar dos avanços, ainda há muito a ser descoberto. Por isso, o uso do CBD no tratamento de transtornos mentais deve sempre ser realizado com acompanhamento médico, respeitando-se a dose, o histórico clínico e o diagnóstico de cada paciente.