No último mês de outubro, a Anvisa aprovou a regulamentação do uso da cannabis na Medicina Veterinária, abrindo caminho para que médicos-veterinários utilizem canabinoides no tratamento de doenças em animais. A aprovação é resultado de muito trabalho por parte de grupos técnicos, pesquisadores e profissionais da área veterinária e representa um marco no Brasil, permitindo que terapias mais avançadas e seguras estejam disponíveis.
Muitos estudos mostram que o uso medicinal de cannabis tem trazido resultados promissores em diversas áreas da saúde animal, contribuindo no tratamento de doenças oncológicas, neurológicas, ortopédicas, além de problemas emocionais e imunológicos.
Um deles, da Unifesp, foi publicado neste ano e investigou o potencial terapêutico dos canabinoides através de uma revisão da literatura e um estudo Delphi com 11 especialistas veterinários brasileiros, explorando as bases fisiológicas, aplicações clínicas e desafios regulatórios dos canabinoides. O estudo revelou um consenso sobre a eficácia da cannabis medicinal em diversas condições, como dor crônica, epilepsia e ansiedade.
Controle de estresse e ansiedade
O canabidiol (CBD), um dos principais compostos da planta, possui propriedades ansiolíticas que ajudam a reduzir comportamentos compulsivos e estereotipados, comuns em espécies que vivem sob estresse prolongado ou em animais que enfrentam situações desafiadoras, como mudanças de ambiente ou isolamento.
Um estudo da Washington State University mostrou, por exemplo, que ratas expostas a cannabis vaporizada por 30 dias reduziram significativamente a resposta ao estresse. Os machos, porém, não apresentaram mudanças. A pesquisa, publicada na Neurobiology of Stress, sugere que os efeitos do uso crônico de cannabis pode variar entre os sexos, mas há consenso de que são necessários outros estudos para confirmação.
Outro ponto importante é a ação anti-inflamatória e analgésica da cannabis, que é amplamente reconhecida, sendo eficaz em casos de artrite, lesões articulares e dor crônica, melhorando a mobilidade e qualidade de vida de animais idosos.
Alívio para convulsões, assim como nos humanos
Um benefício significativo está no controle de distúrbios neurológicos, como convulsões e epilepsia, assim como acontece com o uso humano. Estudos indicam que o uso do CBD pode diminuir tanto a frequência quanto a intensidade das crises, representando uma alternativa terapêutica segura e eficaz. Há também evidências de que o composto pode modular o sistema imunológico, auxiliando no tratamento de doenças autoimunes e inflamações sistêmicas.
Confira algumas possibilidades de uso de cannabis na Medicina veterinária:
Ansiedade e estresse: Reduz comportamentos ansiosos e fobias, especialmente em felinos, aliviando nervosismo em situações como mudanças de ambiente.
Estereotipias e compulsões: Ajuda a diminuir comportamentos repetitivos e compulsivos causados por estresse, como observado em estudos com mustelídeos.
Dor e inflamação: Possui efeitos analgésicos e anti-inflamatórios, sendo eficaz para artrite, lesões articulares e dor crônica, melhorando a mobilidade de animais idosos.
Sistema imunológico: Modula o sistema imune, beneficiando condições autoimunes e inflamações sistêmicas.
Distúrbios neurológicos: Promove redução na frequência e intensidade de convulsões e crises epilépticas.
É importante ressaltar que o uso da cannabis em animais requer acompanhamento de um médico-veterinário especializado e que os veterinários só poderão prescrever esses produtos em receitas especiais a serem retidas nas farmácias.